Quando já tinha gasto tudo, houve uma grande fome naquela região e ele começou a passar necessidade. Foi pedir trabalho a um homem do lugar, que o mandou guardar porcos nos seus campos. O rapaz queria matar a fome com a vianda que os porcos comiam, mas nem isso lhe davam. Então, reflectindo, disse consigo: 'Quantos empregados do meu pai têm pão com fartura e eu aqui a morrer de fome! Vou meter-me ao caminho, vou ter com o meu pai e dizer-lhe: Pai, pequei contra o céu e contra ti; já não mereço chamar-me teu filho. Trata-me como um dos teus empregados'. Pôs-se a caminho e foi ter com o pai.
Quando ainda estava longe, o pai avistou-o e teve compaixão. Correu-lhe ao encontro, abraçou-o e cobriu-o de beijos. O filho começou a dizer: 'Pai, pequei contra o céu e contra ti. Já não mereço chamar-me teu filho'. Mas o pai disse aos empregados: 'Trazei depressa a melhor túnica para lhe vestir; colocai-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés. Ide buscar o novilho gordo, matai-o, e vamos fazer um banquete. Porque este meu filho estava morto e tornou a viver, estava perdido e foi encontrado."
Esta imagem do famoso pintor Rembrandt ilustra de forma emocional a passagem do Evangelho de S. Lucas, comummente conhecida como O Retorno do Filho Pródigo. É seguramente uma narração do amor e do perdão. Nela podemos deixar ser levados para o tempo de João Cidade. Para o momento em que João Cidade, retornado da sua épica aventura por terras longínquas, defendendo como soldado, decide regressar para buscar as suas raízes. Então, as procura na cidade onde o viu nascer, Montemor-o-Novo, em pleno Alentejo! Aqui apenas encontra um seu tio, que numa mescla de felicidade e espanto o reconhece. A mensagem que seu tio lhe transmite não é a que o eterno aventureiro buscava, já que sua mãe havia falecido algum tempo depois de ter deixado a sua terra para Espanha, e o seu pai, depois de entrar num convento de franciscanos em Lisboa, tinha também já partido deste mundo! Num momento de reflexão nossa somos levados a imaginar a face de desilusão de João Cidade, as lágrimas, puro reconhecimento da sua pequenez perante estas novidades... Também ele se deve ter sentido como o filho pródigo, também ele reconhece que a sua vida de soldado não o 'completava', não preenchia o espaço de busca e aventura que Deus já havia colocado no coração de João Cidade! No regresso à sua terra natural, parece que o nosso santo ganha uma nova força, um 'empurrão' que o leva ao cume da sua missão em tons de hospitalidade! Tal como o filho pródigo, também nós somos convidados a reconhecer os nossos fracassos perante as diversas missões que se nos deparam ao longo da nossa caminhada. A resposta que damos perante estes fracassos determina o nosso agir, o nosso aceitar e o nosso construir... Tomara que sejamos sempre como o filho pródigo, humildes e capazes de aceitar os nossos momentos mais fracos e, a partir destes, construir momentos de hospitalidade, de acolhimento e de crescimento para os que nos rodeiam, capazes de, ao exemplo de João Cidade, nos deixemos levar pelo espírito da aventura e dum 'sim' descomprometido...